Vivemos atualmente uma hegemonia das práticas psicoterápicas que privilegiam o trabalho verbal (conversação), geralmente mais próximo do modelo médico tradicional, que é referência para a área da saúde como um todo. Então, estão lá paciente e especialista, aquele apresentando suas queixas e este avaliando sintomas para apresentar um diagnóstico e um tratamento. No caso do psicólogo, a representação social mais comum é daquele que fica ouvindo, fala muito pouco e quando fala, faz uma interpretação que explica o paciente, ou seja, diz sobre ele alguma coisa que ele não sabe e que o psicólogo descobriu.
A escolha de trabalhar com a corporeidade no encontro terapêutico e com a abordagem fenomenológica-existencial vai na contra-mão desse estereótipo, mostrando outras possibilidades de atuação da psicologia. Nesta abordagem, procuro conciliar o trabalho corporal e verbal. Acredito que nessa soma temos a melhor combinação possível de nossas dimensões existenciais para alcançar o bem-estar, que é uma busca da pessoa atendida na qual participo como uma facilitadora.
No trabalho com relaxamento em psicoterapia, é fundamental o relato da experiência vivida pela pessoa atendida. Nisso, o uso de técnicas de relaxamento tal como proponho se diferencia da apropriação de profissionais de outras áreas de formação, como fisioterapeutas, massoterapeutas, esteticistas. Ainda que apenas a aplicação dos toques possa trazer por si só um efeito benéfico, o trabalho de elaboração que fazemos conjuntamente na sessão acolhe os acontecimentos geralmente intensos da aplicação, dando suporte ao material rico de sensações, lembranças, imagens, sonhos, pensamentos que aparecem. Nesse momento de relatar o que foi vivido, a pessoa se apropria das suas experiências, fala daquilo que lhe passou, inclusive dos elementos desconexos, aparentemente sem sentido, que sempre fazem parte de nós, mas que no cotidiano geralmente marginalizamos. Aqui, esta é a nossa matéria-prima, elementos significativos que se mostram a partir do nosso movimento de voltar-nos a eles e pedem um caminho de elaboração.
No diagrama acima, retirado do livro “Seminários de Zollikon”, do filósofo Martin Heidegger, vemos um desenho que mostra o existir humano enquanto ser-no-mundo, em seus aspectos mais essenciais: nunca fechado em si mesmo, sempre aberto às apreensões daquilo que se lhe fala a partir de sua clareira.