Sensação de “dejavu”, né, gente? Um ano se passou e em relação à pandemia estamos no mesmo pé de 2020 ou numa situação ainda pior. Mal começaram as aulas, as escolas estão fechadas, o número de casos é alto, ainda não temos acesso a vacinas… enfim, uma situação complicada, que requer muita serenidade e resiliência da nossa parte.
Este artigo é sobre o uso das telas com as crianças, que acaba aumentando muito nessa fase em que a convivência social está tão restrita.
Algo que é muito comum e que infelizmente prejudica o desenvolvimento dos pequenos é a falta de uma rotina para o uso das telas. A tela acaba ficando num lugar de “tapa-buraco”. Quando os pais têm uma reunião ou quando estão cansados, vão lá e ligam um desenho qualquer, do jeito que der, pra conseguir um pouco de sossego ou de silêncio para trabalhar. É aquela hora que a gente se rende e diz pra si mesmo “Eu não estou dando conta, então, paciência, vai ser assim mesmo, é o que tem pra hj…”
É muito compreensível, né, gente. Cuidar de criança é extremamente cansativo mesmo, sobretudo com rede de apoio desfalcada como está agora, 7 dias por semana, 24h no ar. Porém, essa dinâmica que resolve um problema imediato cria outros problemas a curto, médio e longo prazo:
1 – a criança percebe rapidamente que a tela é oferecida a ela quando os pais estão cansados ou sem disponibilidade por terem outros compromissos, então, ela fica sempre atenta às oportunidades de pedir a tela nas quais ela sabe que terá mais chance de conseguir. Como ela não tem um ou dois momentos do dia estabelecidos para assistir, ela fica sempre ligada nisso, cultivando essa expectativa e pode desenvolver menos outros interesses que seriam muito importantes para o seu desenvolvimento como brincar, se movimentar, explorar a natureza. Mesmo quando a criança tem essas oportunidades de brincar livremente, se o uso da tela não for feito de forma que ela possa prever e se organizar psiquicamente em relação a quando vai ter acesso e quando não vai ter, este uso intermitente pode afetar outros momentos do dia. É um estímulo muito poderoso, então, precisa ser usado com cautela.
2 – o desenho no celular e no tablet é totalmente diferente do desenho na tela grande da televisão ou do computador. Os equipamentos portáteis fazem com que os pais percam totalmente o controle sobre o que a criança está assistindo e até mesmo se ela mudou o conteúdo que havia sido colocado inicialmente. Além de serem telas pequenas, difíceis para visualizar, ficam muito perto do rosto e prejudicam o desenvolvimento ocular. As telas fixas são muito mais interessantes, seja para a aula online ou para o entretenimento. Elas permitem que a criança se movimente sem que a tela se movimente junto e não tem funções condicionantes que a criança acaba executando como touch, deslizar para o lado etc… O melhor é que sejam os pais a manipular o equipamento sempre e para isso é melhor que sejam fixos e não portáteis.
3 – nós é que escolhemos a programação. É importante fazer uma seleção dos títulos que vc considera que trazem bons valores, boas mensagens e uma boa estética para a sua criança. Se vc não fizer isso e deixar que o critério seja “ela assiste o que ela gosta” vai estar deixando que as produtoras desses conteúdos definam isso por vc. A criança não tem discernimento para selecionar conteúdos conforme a sua pertinência, ela é facilmente atraída por cores, brilhos, sons, movimentos… só que esses programas trazem modelos referenciais, personagens que inspiram o comportamento da criança, que participam do repertório dela. Então, por exemplo, se vc não quer que o seu filho use xingamentos com os outros, diga palavras agressivas, não deixe que ele assista desenhos em que os personagens são verbal ou fisicamente agressivos uns com os outros. Só aí vc já vai cortar uma boa parte das opções!!! Mas ainda vão restar umas tantas outras que valem a pena e são interessantes.
Enfim, gente, espero que esses três alertas possam fazer a diferença na sua casa. Fazer um bom uso das telas é possível, só precisamos ter em conta que não dispensam por si mesmas a função do cuidado! Numa questão de minutos, eventualmente até segundos, para atentar para esses aspectos, podem fazer a diferença na hora do aperto.