Passado o primeiro trimestre, a criança muda e seu sono também. No geral, desde que nascemos até os 7 meses é o período da vida em que nosso sono vai mais se modificar.
Vejamos parte dessas mudanças:
1. O sono do princípio, caracterizado como caótico, vai dar lugar neste período a um sono mais previsível e o bebê começará a dormir um pouco mais à noite do que de dia.
Por volta dos 2 meses, aquele sono tranquilo do recém-nascido vai evoluir para fases mais profundas (origem das fases III e IV) em que é mais difícil despertá-lo. Muitos pais crêem que seu filho será sempre assim, mas por volta dos três meses o sono se tornará um pouco mais leve (origem das fases I e II) o que lhes faz pensar que seu filho está se descontrolando novamente. Não, não se trata de uma regressão do que já adquiriu e sim de uma evolução em direção a fases adultas.
2. A partir do primeiro trimestre já não entrará diretamente na fase REM e sim terá necessidade de passar antes por uma fase não-REM. Desta forma, se faz pouco tempo que adormeceu, qualquer mudança pode despertá-lo, já que primeiro atravessa algumas fases de sono leve antes de chegar à de sono mais profundo.
3. Quando já chegou às fases mais profundas de sono tranquilo (fase IV) pode permanecer aproximadamente uma hora nela. Em seguida se despertará.
Muitos pais, chegado este período, se queixam que ao final de uma hora a hora e meia de sono, seu filho acorda. Muitos deles atribuem isso ao filho ter dormido no colo (ou na sua companhia) e então estar sentindo sua falta. Vejamos uma carta de Berta, mãe de Carlos (de 4 meses), típica dessa faixa etária:
Bom, não sei se estamos avançando ou retrocedendo. Até pouco tempo atrás, quando dormia, o deixávamos em seu bercinho e acordava para as mamadas noturnas. Agora nos custa mais: até que esteja bem adormecido não podemos deixá-lo porque acorda em seguida e, se passa apenas 1 hora ou 1 hora e meia, e volta a acordar. Às vezes leva até 1 hora para voltar a dormir! Nos disseram que pode ser porque não estamos com ele quando acorda e sente nossa falta, mas… nas vezes em que adormece sozinho acontece o mesmo!
Temos que partir da base de que um bebê sempre sente falta de seus pais, mais ainda quando acorda de noite; neste caso, com pais ou sem eles, a criança acordará da mesma forma. A única diferença está na gama de comportamentos que as crianças podem apresentar: há os que apenas fazem barulho e dormem com facilidade em poucos segundos; há os mais barulhentos e que podem ficar mais tempo acordados; e por último há as crianças que começam a apresentar transtornos do sono como terrores noturnos.
O que influencia se vai apresentar um comportamento ou outro? Exceto no caso dos transtornos, as outras duas situações dependem exclusivamente da maturação da criança e sempre chega um dia em que a criança amadurece e dorme por si mesma depois de um despertar. Se você acreditava que não despertava, é falso: todos despertamos cerca de 10 vezes por noite, a única diferença entre um bebê e nós adultos é que nós já dominamos a técnica. Quando muito, nos viramos para o outro lado, esticamos o lençol e continuamos dormindo sem tomar consciência do despertar.
Mas voltemos à nossa hipótese principal: as necessidades biológicas e emocionais do bebê se sincronizam com os estados de sono e vigília para garantir aquilo de que necessita. Portanto vejamos quais são essas necessidades e como é o sono nessa idade:
O que necessita um bebê de 4 a 7 meses?
– Adquirir o ritmo circadiano;
– Adquirir as fases do sono do adulto;
– Alerta seletiva
– Introdução aos alimentos complementares
Adquirir o ritmo cicardiano
A partir dos 4 meses toda criança já tem menos risco de sofrer hipoglicemias; a amamentação está estabelecida (se mamou durante esse período), portanto já começa a diferenciar os dias e as noites sem perigo. Adquirir esta diferenciação será de vital importância para o seu desenvolvimento posterior. Para consegui-lo, neste período termina a maturação do núcleo supraquiasmático do cérebro (verdadeiro relógio biológico do nosso corpo). Por isso no começo os bebês não podem ter um ritmo circadiano adquirido e são caóticos.
Adquirir as fases do sono do adulto
Quando um bebê nasce tem apenas duas das fases do sono porque isso lhe ajuda em sua sobrevivência. Pouco a pouco vai adquirindo as outras fases e se sabe que, ao redor dos 6-7 meses, já podem estar adquiridas.
Alerta seletiva
Quando era menor necessitava que a mãe estivesse em estado de alerta constante (era vital para sua sobrevivência), mas agora não mais. Agora só o fará quando se sentir sozinho ou com estranhos. É mais fácil deixar um bebê com um estranho aos 2 meses do que nessa idade.
Introdução aos alimentos complementares
Uma vez cumpridos os seis meses se pode começar com os primeiros pedacinhos de alimento, ainda que o leite (tanto materno quanto artificial) siga sendo o alimento principal (segundo as recomendações da Organização Mundial da Saúde).
Portanto, já dissemos que o sono vai favorecer tudo aquilo de que o bebê necessita, porque segue sincronizado às suas necessidades. Vejamos se as mudanças no sono ajudam em tudo que acabamos de explicar.
E… como é o sono nessa idade?
– Cicardiano
– Polifásico
– Instável
Cicardiano
Quer dizer, diferencia o dia e a noite. Ainda que cada criança vá no seu ritmo, a maioria das crianças de 7 meses costumam fazer algumas sonecas durante o dia e um período mais ou menos longo à noite. O número de horas de sono se reduz (entre 10 e 15 horas).
Isso contribui não só para a aquisição do ritmo circadiano, tão importante no ser humano, como também lhe permite um passo gradual a outro tipo de alimentação.
O sono é circadiano porque a criança já possui uma maturação importante do núcleo supraquiasmático do cérebro (por isso antes não podia ser circadiano e era caótico). Mas para que funcione, este relógio biológico precisa de referentes internos e externos que cada criança irá assimilando em seu ritmo. Os pais podem ajudar tentando inculcar-lhes esses referentes, mas isso não garante que assimilem em pouco tempo.
Em sociedades onde não se pretende que as crianças sigam um horário desde tão pequenos (nem lhes dão referentes externos, nem rotinas nem nada) se comprovou que a longo prazo também seguem um ritmo circadiano e que não tem nenhuma sequela posterior. Mais ainda, neste tipo de sociedade a insônia é praticamente desconhecida e as pessoas podem despertar-se e dormir à vontade durante a noite sem maiores problemas.
Polifásico
A partir de agora, não só tem adquiridas quase todas as fases do sono do adulto, mas também pode uni-las com mais facilidade e dormir períodos de mais de um ciclo, com o que pouco a pouco se prepara para desenvolver um padrão de sono adulto.
Instável
Quando um bebê nasce apenas tem duas das cinco fases que terá mais tarde. O sono entre os 4 e os 7 meses é muito instável porque vão surgindo as fases que faltam e o bebê precisa se adaptar a elas. É um período de transição em que os despertares são muito frequentes (às vezes mais que no primeiro período). Por quê? Porque estão ensaiando! Agora são mais fases e mais mudanças e as crianças precisam ensaiar para aprender.
Imagine um bebê que, até pouco tempo, somente tinha fase REM e sono profundo e que em três ou quatro meses aparecem como num passe de mágica quatro fases mais! Se já era difícil dominar um par de fases, imagine agora! Por um lado se supõe que podemos despertar entre uma fase e outra, portanto, quanto mais fases mais opções para despertar. E por outro lado, duas dessas fases são de sono leve (em que um pequeno barulhinho pode nos despertar). Estranham agora que o bebê acorde mais à noite nessa etapa de seu desenvolvimento?
Nos consultórios dos profissionais do sono são muito comuns consultas que começam assim:
Meu filho de 6 meses, desde que nasceu, mais ou menos dormia como todos e acordava para mamadas durante a noite. Mas agora parece que está piorando. Desperta muito mais e, depois da mamada, não volta a dormir tão facilmente como antes.
Pode ser que os pais não durmam bem, de acordo, mas a criança não tem nada de anormal; simplesmente está ensaiando e chegará um dia que dominará a técnica de passar de uma fase à outra.
Se unimos essa instabilidade noturna ao fato de que se dão outras mudanças importantes na vida de uma criança, como o retorno de muitas mães ao trabalho remunerado ou o início da introdução alimentar (ao redor dos 6 meses), tudo indica que será uma época muito crítica para nosso filho. Quiçá seja uma das épocas em que necessitem nossa maior compreensão.
O que fazer enquanto isso? Na dúvida, nada, porque poderíamos alterar a evolução natural do sono. Sem dúvida, como existem pais que são muito dorminhocos (que podem se juntar com crianças que acordam mais do que o normal), podemos seguir tentando os mesmos conselhos que já demos para o período de 0 a 3 meses: aleitamento materno e cama compartilhada. As mães que seguem essas instruções acabam comentando que não notam grande diferença quanto ao número de despertares (as crianças acordam da mesma forma) mas sim quanto ao tempo que o bebê leva para voltar a dormir: a maioria apenas alguns segundos; e a mãe também.
De toda forma, há outras coisas que podem ser feitas nesse período e que veremos nos próximos capítulos.
Traduzido e adaptado do livro Dormir Sin Llorar, de Rosa Jové.