São os últimos dias da sua gravidez, aqueles que imaginava idílicos, tocando sua barriga e comentando sobre como se posicionar porque não estaria confortável de nenhum jeito.
Imaginava que poderia ir tranquilamente ao hospital que com tanto mimo havia escolhido. No entanto, você vai precisar parir em tempos de pânico, sentir medo quando supunha que sentiria felicidade e confiança. Se aproxima o momento mais esperado depois que você se soube grávida, o instante em que verá finalmente seu bebê… Sua cria nasce e vocês dois estão saudáveis. Permitem que fiquem juntos, você enfim respira. Tudo corre bem, seu pequeno núcleo familiar vai pra casa celebrar.
O puerpério é uma etapa de vulnerabilidade, na qual altos e baixos emocionais podem ser habituais, na qual podemos transitar em diferentes estados de ânimo num único dia e na qual, sobretudo, precisamos sentir-nos apoiadas para sustentar com êxito o novo bebê.
O primeiro sistema de apoio que temos quando estamos no pós-parto é nosso parceiro, depois nossa família de origem e em seguida o conjunto dos sistemas sociais que nos acompanham e cuidam.
Quando em momentos como o atual, esses sistemas estão distantes, como é o caso dos familiares, não temos a possibilidade de estar a seu lado, pelo confinamentos, e quando o sistema social está assustado, impactado e aterrorizado, tudo isso chega até nós e nos afeta. Para a pessoa que está atravessando um puerpério, dando suporte a um bebê, a situação se torna altamente complicada.
Se for o seu caso, se você é uma mãe recente e tem todo dia e toda noite que cuidar de sua cria, cuide de si mesma também. Te incentivo a se proteger não somente ficando em casa, mas também estando atenta ao que entra em sua casa, as notícias, as mensagens, os áudios, as conversas, para que você escolha conscientemente aquilo que te faz bem, o que te dá energia e força para o seu momento.
Sou consciente de que, nesses tempos, o que menciono é quase um heroísmo, que não viver o medo é sensivelmente difícil agora. Mas lembre-se de que você é afortunada, que você e seu bebê podem estar inundados de ocitocina e de momentos de tranquilidade e amor constantes que chegam a você através do vínculo com sua cria.
Se puder, desfrute, procure não se perder nas redes e nas estatísticas, procure ilhar-se do mundo exterior e viver em seu tempo lento, úmido, quentinho e balbuciante.
Querida mãe puérpera, desejo de coração que possa fazer isso, que se esqueça um pouco do mundo e construa o seu próprio mundo dentro de sua caverna. Esse espaço íntimo e único que se faz entre vocês pode ser um lindo anteparo nesses tempos de caos. Pode ilhar-se sem culpa! Não é tempo de lutar, não é momento para se colocar na trincheira. É hora de tentar desfrutar seu puerpério maravilhoso e merecidíssimo, maternar com todo o prazer que puder para diminuir o impacto do caos externo falando com seu bebê, dando-lhe beijos, mordidinhas, e aninhar-se horas e horas ao seu ladinho. Feliz confinamento puérpero.
Por Esther Ramírez Matos, psicóloga perinatal e terapeuta familiar
Tradução: Juliana Breschigliari
Original em espanhol:
https://saludmentalperinatal.es/2020/03/24/puerperio-en-tiempos-del-panico/