Eu sempre vejo nos olhos dos meus pacientes o misto de alívio e de alegria quando digo para eles que a gente pode trilhar agora no presente as aprendizagens socioemocionais que a gente não trilhou da forma ideal na infância.
É muito interessante pensar na relação entre psicoterapia e infância da perspectiva do desenvolvimento humano como um processo que se dá constantemente na aquisição de novas aprendizagens e habilidades.
Em psicoterapia a gente vai mais ou menos no ritmo de cada paciente, sempre retomando o que é que ficou pendente das aprendizagens socioemocionais dessa primeira etapa da vida que é considerada matricial. Matricial significa que ela é uma matriz que carrega com ela uma forte tendência a se reproduzir no decorrer de toda a vida, e é isso justamente que as pesquisas sobre infância vão cada vez mais apontando, o quanto os arranjos que ocorrem na infância em termos da regulação emocional da criança tendem a permanecer ao longo de toda a vida.
Regulação que é inicialmente diádica, apoiada nos adultos da proximidade da criança, e depois auto-regulação, quando a criança já desenvolveu adquiriu sua autonomia para lidar com suas próprias emoções mais desafiadoras. E é por isso que é tão importante a gente olhar para o modo como a gente cuida das crianças, assim como também ao trabalhar com adultos, à medida que esse processo vai se aprofundando, vamos sendo levados a revisitar essas experiências infantis. Não são poucas as surpresas, às vezes doloridas, mas sem dúvida muito fortalecedoras que a gente encontra quando a gente vai mergulhando na nossa criança interior.
Feliz mês da criança para todos nós que carregamos dentro da gente um poder que sempre terá muito a nos dizer e ensinar sobre quem somos hoje.