Pais com depressão perinatal não recebem a ajuda de que necessitam*

A depressão pós-parto em mães de primeira viagem é um fenômeno bem conhecido[1]. Sem dúvida, o conhecimento sobre a depressão nos homens quando se tornam pais é mais limitado. Um novo estudo da Universidade de Lund na Suécia mostra que a depressão nos pais de primeira viagem pode ser mais comum do que se acreditava anteriormente. Também existe um risco importante de não ser detectado com os instrumentos atuais e de que os pais não recebam a ajuda de que necessitam.

A detecção da depressão nos homens pais de primeira viagem é crucial, não só por seu próprio bem se não também porque os pais deprimidos se tornam menos perceptivos às necessidades do bebê, particularmente se este chora muito. Os bebês de pais deprimidos tendem a ter menos interações, o que, eventualmente, poderia conduzir a um desenvolvimento mais lento. Em alguns casos, a depressão pode conduzir ao abandono do bebê ou a comportamentos violentos [2].

“Esses comportamentos não são incomuns: a depressão não só implica um sofrimento maior para o pai, se não também um risco para o bebê”, disse Elia Psouni, professora associada de psicologia do desenvolvimento e coautora do estudo, junto com os psicólogos Johan Agebjorn e Hanne Linder.

Todas as mães de primeira viagem são submetidas a exames de detecção de depressão[3], e se estima que entre 10 e 12% das mulheres se vêem afetadas ao longo do primeiro ano depois de dar à luz. Os pais, por sua vez, não são avaliados, mas estudos internacionais prévios afirmam que a proporção de pais deprimidos chega a pouco mais de 8%.

O estudos com 447 pais novos mostrou que o método estabelecido para detectar a depressão (EPDS, Ednburgh Postnatal Depression Scale) funciona mal com homens.

“Isso significa que as estatísticas atuais podem não dizer toda a verdade quando se trata da depressão em pais de primeira viagem”, disse Elia Psouni. “O método não detecta os sintomas que são particularmente comuns nos homens como irritação, inquietude, baixa tolerância ao estresse e falta de autocontrole”.

Ainda que um terço dos pais deprimidos no estudo tivessem pensamentos lastimosos, pouquíssimos haviam recorrido ao sistema de saúde. Entre os que se classificaram como pessoas com depressão moderada a severa, 83% não haviam compartilhado seu sofrimento com ninguém. Ainda que seja difícil saber, acredita-se que a cifra correspondente para mães de primeira viagem seja entre 20 e 50%.

“Dizer às pessoas que se sente deprimido é um tabu: como pai de primeira viagem, se espera que ele esteja feliz. Além disso, investigações prévias têm demonstrado que os homens em geral são reticentes em relação a buscar ajuda para problemas de saúde mental, especialmente depressão, motivo pelo qual acabam hesitando em revelar seu sofrimento a uma enfermeira pediátrica”, disse Elia Psouni.

Elia Psouni, Johan Agebjörn y Hanne Linder esperam que seu estudo conduza a métodos melhores de detecção de acordo com suas sugestões, para que se possa chegar a todos os pais. O método que desenvolveram, combinando perguntas de EPDS e GMDS (Escala de Depressão Masculina de Gotland), resultou muito adequado para captar pais com múltiplos sintomas de depressão.

Quando se trata de avaliar a depressão nos pais, Elia psouni acredita que o período a considerar deveria ser mais longo que os 12 meses que se aplicam atualmente nos estudos das mães de primeira viagem.

“Entre os homens, a depressão é comum inclusive ao final do primeiro ano, o que pode dever-se ao fato de que raras vezes recebem ajuda, mas podem haver outras explicações. Seja qual for a razão, é importante controlar o bem-estar dos pais, já que sua licença paternidade geralmente termina ao final do primeiro ano de vida da criança.”

* Texto traduzido do espanhol: https://saludmentalperinatal.es/los-padres-depresion-perinatal-no-reciben-la-ayuda-necesitan/

[1]  Ainda que nem sempre se diagnostique e trate. Às vezes também se interpreta como depressão pós-parto os transtornos derivados do parto.

[2]  Também afeta às mães, em um período especialmente sensível como é o puerpério.

[3]  Em alguns países, na maioria não.

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