Nesse dia das mulheres, quero falar sobre maternidade e independência feminina.
Venho lendo a Simone de Beauvoir e estou muito influenciada pelas suas ideias ultimamente. Realmente acho que tem muita riqueza no trabalho que ela fez sobre a história das mulheres no mundo, ao longo dos tempos. As mulheres sempre foram mães e sempre se relacionaram com os homens, assim como também com as crianças, com o mundo doméstico e o mundo público, do trabalho e da política. Então, é importante que possamos aprender com tudo que já foi vivido por tantas que nos precederam. Acho que esse tipo de resgate da história é muito válido e esclarecedor do atual.
Independência é algo que absolutamente não combina com maternidade. Não à toa muitas mulheres, hoje em dia com mais facilidade do que em outros tempos sem anticoncepcionais e menos liberdade patrimonial ou sexual, escolhem não ser mães. E não combina porque criança não combina com independência feminina. É da natureza da criança ser dependente da mãe ao nascimento e por muitos anos, portanto, uma certa independência pode ser construída, mas combinar não combina não.
Porém, paradoxalmente, é necessário ao bom desenvolvimento de uma criança e também da vida pessoal da mãe e familiar que a mulher seja independente, ou seja, que ela possa atravessar o período de dependência da criança em relação a ela sem se perder completamente de si mesma como pessoa e que possa guardar alguns espaços para a sua individualidade e para os seus interesses pessoais adultos. Em meio à total dependência da criança, esses espaços da individualidade podem ser reais ou até mesmo imaginários, como planos futuros.
E será que nós mulheres mães temos sido capazes de fazer isso nesse mundo como ele é hoje? Será que as jornadas de trabalho de 8h, 9h diárias para mulheres com bebês de 4, 5, 6 meses em casa têm ajudado as mulheres e as crianças a criarem esses espaços saudáveis de cultivo da independência durante a etapa da dependência entre mãe e bebê?
Num mundo em que ou você é mãe tempo integral e não faz mais nada porque você não tem dinheiro, não tem companhia e não tem auto-estima ou você é uma profissional bem sucedida que só trabalha e não põe energia na relação com os filhos, fica muito difícil ser independente e ao mesmo tempo estar lá para a criança dependente de vc.
Um brinde às mulheres que estão nessa luta de conciliar as coisas. Eu considero uma luta. O feminino está em enxergar além do branco e do preto as muitas outras nuances no espectro das nossas possibilidades. Como diria Simone, ser mulher é um (trans)tornar-se.