Meu filho tem TDAH?

khalaó | Blogue

Muitos pais vêm ao consultório preocupados se o filho tem TDAH ou algum outro transtorno de desenvolvimento relacionado à sensorialidade: excesso de movimento, dificuldades na fala ou na comunicação, hipersensibilidade tátil. Acho que é válido partilhar aqui algumas informações básicas que podem nos ajudar a compreender o que ocorre com as crianças, de forma respeitosa e cientificamente fundamentada. Gosto muito da teoria de integração sensorial, de Anne Janes Ayres, uma psicóloga educacional e terapeuta ocupacional americana.

Segundo ela, nosso sistema nervoso se organiza em três processos, sendo o primeiro deles o dos inputs (processo de entrada das informações através dos sentidos); o segundo é o processamento das informações, no cérebro; e o terceiro, os outputs (as respostas dada pelo indivíduo após o processamento). Para ela, além dos 5 sentidos mais conhecidos (visão, audição, paladar, olfato, tato) temos outros três que participam ativamente dessa experiência humana na interação com o ambiente: o sistema vestibular, o sistema proprioceptivo e o sistema interoceptivo.

o sentido vestibular ( todas as sensações que provém do vestíbulo, o nosso ouvido interno. O vestíbulo é formado por canais semicirculares, cheios de líquido e que se movem cada vez que se move a cabeça. Está relacionado a movimento corporal, sensações de velocidade, equilíbrio, aceleração, rotação, movimento angular

sistema proprioceptivo ou cinestésico (músculo-esquelético) – Sistema que processa toda a informação que recebemos dos músculos, ligamentos e tendões sobre como está nossa postura, nosso corpo no espaço e que utilizamos para fazer força, contração muscular e coordenação de movimentos

sistema interoceptivo: é o sistema tátil profundo, que envolve a auto-regulação, sensações de fome, saciedade, sede, sono, vontade de ir ao banheiro, cansaço. É o sistema que coordena a percepção das sensações internas.

Se esses 8 sentidos estão participando ativamente da percepção da criança, então, existe integração sensorial. Não importa se uma cça corre mais que a outra ou se corre mais rápido, o q importa é como fazem uso do corpo, dos diferentes espaços, se dão respostas adaptativas de participação e se estão desfrutando. Percebemos isso observando a qualidade da sua participação.

Talvez vocês já saibam que o cotidiano oferece as múltiplas experiências necessárias ao desenvolvimento psicomotor saudável. Não é necessário um estímulo especial e sim o mais natural possível em que as crianças possam experimentar com o que têm a sua frente.

Porém, eventualmente ocorre que qdo recebem informação tátil, algumas crianças processam como agressão, ameaça. Por exemplo, não querem colocar o casaco por nada ou a etiqueta da roupa incomoda ou o sapato. Isso acaba interferindo em aspectos afetivos, por exemplo, como se relacionam com os demais. Em alguns casos, são crianças que passaram por privação sensorial muito severa ou mal-trato (insuficiência de mostra afetiva vinculada ao tato), o que pode gerar consequências muito graves em como toleram a experimentação tátil. Por exemplo, bebês prematuros bombardeados com muitos estímulos táteis como exames, picadas de agulha ou deixados em incubadoras muitas horas/dia no início da vida.

Da mesma forma a informação auditiva também pode chegar como uma ameaça e revelar a dificuldade de integração corporal. É comum observarmos também crianças com exposição precoce e excessiva a telas que não sabem manejar o corpo, ou seja, devido ao que receberam em suas vias de entrada (inputs) sofrem consequências em nível sensório-motor e apresentam respostas explosivas ou desorganizadas.

Como podemos perceber, o contexto é essencial. Nem sempre uma dificuldade sensorial é um transtorno. Muitas vezes o comportamento da criança é uma resposta à inadequação das informações oferecidas às suas vias de entrada.

Gostou desse artigo? Compartilhe com quem você sabe que precisa!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.