Quem está lendo meu blogue pela primeira vez, precisa saber. Sou mãe do Paco, que nasceu em 2016, e sou psicoterapeuta, orientadora de pais. Eu sempre digo que em primeiro lugar sou mãe e depois vem o resto, os títulos, as especialidades. Desde que o Paco nasceu comecei a retomar os estudos sobre o apego, que é uma linha de estudos e pesquisas na área de saúde mental que eu já conhecia da graduação em psicologia e somente depois de me tornar mãe tive maturidade para compreender melhor.
Essa abordagem, os estudos sobre o desenvolvimento materno-infantil e as orientações que se desdobram desses estudos, é a mais importante na área, ao meu ver.
Os sistemas de saúde têm ignorado as mães e desconsiderado suas experiências e conhecimentos, de acordo com a psiquiatra infantil Ibone Olza, que também trabalha com a mesma abordagem. Segundo ela, “essa ausência do conhecimento materno deu lugar a uma ciência enviesada e em muitos casos danosa”, que nós não queremos. A criação com apego é a ciência das mães, baseada na observação e pesquisa sobre as condutas que toda mãe emocionalmente saudável terá vontade de adotar com seu bebê e que foram moduladas ao longo de centenas e milhares de anos de evolução da nossa natureza.
Penso que precisamos escutar bem as mães e julgar menos e que isso é o principal fator para a saúde das crianças. Nós temos uma natureza que precisamos conhecer, entender melhor, para respeitar e favorecer em seu desenvolvimento mais pleno, desde a fase mais sensível. A gestação, o parto e a criação, o chamado período perinatal, é a base da nossa saúde. A forma como ele transcorre influencia muito todo o restante da vida de alguém.
Se você ainda não conhece bem a criação com apego, aqui vão os cinco princípios básicos por onde você pode iniciar:
1 – Colaboração
As relações sólidas se fundam na comunicação em colaboração.
A reação com o olhar, a expressão do rosto, o tom de voz e os movimentos corporais são aspectos fundamentais da comunicação não-verbal.
A transmissão desses sinais não verbais produz uma conexão em ressonância que leva ao sentido de vitalidade.
Cada pessoa pode chegar a “sentir-se sentida” pela outra.
2 – Diálogo reflexivo
As figuras de apego reconhecem os sinais que enviam à criança e procuram captá-la em suas próprias mentes, para comunicar-se com a criança, de maneira que se estabeleça um significado para a criança. O diálogo que ocorre quando temos visão mental.
3 – Reparação
Quando a comunicação harmoniosa se interrompe, o que é inevitável, o adulto restabelece a conexão com a criança.
A reparação é saudável porque ensina à criança que a vida está cheia de mal entendidos e de conexões desfeitas, mas que podemos identificar quando isso acontece e voltar a criar a conexão.
A possibilidade de experimentar afetos positivos depois de ter vivido estados afetivos negativos é fundamental pois ensina à criança de forma não-verbal e implícita que as emoções negativas podem ser toleradas e transformadas.
4 – Narração coerente
A conexão entre presente, passado e futuro é um dos processos centrais da mente na criação da forma autobiográfica de consciência do eu.
Os adultos podem apresentar à criança o mundo do “eu” e o do outro, construindo com elas histórias acerca dos acontecimentos da vida.
Com isso, colaboram com a construção da realidade da criança e lhe dão ao mesmo tempo os instrumentos necessários para captar o mundo interior e exterior.
5 – Comunicação emocional
Podemos compartilhar e aumentar a alegria e as experiências positivas.
Os momentos intensos são importantes para criar as bases de uma atitude positiva da criança em relação a si mesma e aos outros.
Da mesma maneira, é importante também que possamos permanecer unidos em momentos de emoções desagradáveis.
A dificuldade para compreender ou colocar em prática essas atitudes indica a presença de outros padrões de apego, como inseguro evitativo ou inseguro ambivalente, que são frequentes na nossa sociedade. O mais importante não é fazermos tudo certo desde o princípio mas irmos em busca do apego seguro alcançado, através de relações de ajuda como a relação terapêutica e outras.