Calatonia e Relaxamento

A calatonia, técnica de relaxamento desenvolvida pelo médico húngaro Petho Sandor, é caracterizada por uma sequência de toques muito sutis que visam promover um estado alterado de consciência propício ao trabalho terapêutico e ao bem-estar da pessoa atendida. Os toques são realizados pela terapeuta nos dedos e sola dos pés, no calcanhar, na convergência tendinosa do tríceps sural (batata da perna) e nas fossas occipitais (nuca) na parte posterior da cabeça, durante as sessões de psicoterapia.

A calatonia se utiliza da nossa sensibilidade cutânea para nos levar ao chamado estado hipnoidal, que é um nível de consciência intermediário entre a vigília e o sono.

O toque sutil é monótono e por isso hipnótico. Sandor sugere que o toque seja feito como se fossemos segurar uma bolha de sabão. A aplicação começa pelos pés, que recebem os primeiros e a maior parte dos toques. Geralmente apertados nos sapatos, não sendo tratados com delicadeza, nossos pés não têm condicionamento para toques tão leves. Aí se inicia o processo de relaxamento. Não por acaso, a calatonia privilegia bastante o contato com os pés. Atuar nessa que é a nossa base de sustentação é uma forma de apresentar estímulos na direção contrária aos centros do organismo (tálamo e hipotálamo), favorecendo reorganizações psico-físicas.

Assim como os pés, em se tratando de calatonia, um olhar sobre a pele também merece um destaque. Sendo nosso maior órgão e nossa fronteira de contato com o mundo, é a área onde a nossa singularidade se inscreve através das vivências multisensoriais simultâneas que se sintetizam de forma peculiar em cada um de nós. Quando nos ferimos com uma faca, dizemos: “Eu me cortei!”. E não: “Cortei o meu invólucro.” Pesado, leve, quente, frio, dolorido, duro, mole, ardente, suave, cortante, morno… A linguagem demonstra a importância da pele nas denominações sensoriais das quais lançamos mão para falar do que sentimos nas diversas camadas da nossa experiência. Estamos sempre sendo tocados de alguma forma! 

Foto: Ex-voto cênico, 1909, Exposição “Mão do povo brasileiro”, Masp. 

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