Quando digo que estou amamentando um garotinho de 5 anos não é pra criar polêmica nem nada. Amamentação é um tema tabu e só de tocar no assunto muita gente já se incomoda. Ainda mais a amamentação dita “prolongada”, que, enfim, é uma expressão que já diz de um olhar para a amamentação como se o “normal” fosse até 2 anos. Não é, a orientação da OMS diz claramente até 2 anos ou mais, até quando mãe e criança desejarem, sem contra-indicação. Acredito que a tendência seja que os estudos sobre amamentação após os dois anos (ainda muito incipientes) aponte para benefícios tanto para a saúde da mulher quanto para o desenvolvimento da criança.
Eu sempre soube que queria amamentar. Eu mesma mamei até mais de 3 anos, então, pra mim sempre foi algo natural amamentar mais tempo do que a média. Porém, hoje ha 5 anos com meu filho nessa jornada, penso como é bom chegar nessa fase da amamentação que é muito leve e tranquila, diferente de outras nos primeiros anos. Vejo que vai passando o tempo e vamos sendo cada vez menos mães que seguem em frente dando o peito.
Na fase inicial de adaptação, sofri um tanto como a maioria das mulheres, com dor no peito até acostumar, depois aquelas noites com o Paco pendurado literalmente a noite inteira… Teve épocas em que eu mal conseguia sair com ele e ficar 2h junto sem ele precisar mamar. Era colocar na cadeirinha do carro e pronto, chororô, queria o peito.
Me lembro claramente dos 2 anos, quando comemorei pela primeira vez 4h sem dar o peito durante o dia. Isso porque sempre regulei bem a amamentação, como aconselho que as mães façam quando me perguntam: dê o peito quando vc estiver com o bebê e ele pedir, não dê o peito qdo vc não estiver com o bebê e ele não te ver (isso geralmente até os 2 anos). Eles sempre vão pedir, por isso o melhor é alternar com outros cuidadores, para não se esgotar. E assim vamos construindo uma relação saudável emocionalmente com nossos filhos, sem querer colocar limites tão cedo através de um dos aspectos mais importantes do desenvolvimento do bebê e da criança que passa pela oralidade, saciedade, aconchego, segurança e tudo mais. O peito realmente fala a língua do bebê e da criança pequena. É o cordão umbilical fora da barriga. Reúne muitas condições importantes para o bom desenvolvimento, não só até 6 meses, não só até 2 anos.
Por isso sigo amamentando e apoiando mulheres, casais e famílias nesse processo, cada um com seu caminho peculiar, sem regras pré-estabelecidas, porém com muita convicção de que quando é possível a amamentação é realmente um presente de efeito duradouro, que podemos dar a eles unicamente na primeira infância. E quem não pôde oferecer esse presente tem um grande desafio de encontrar outros caminhos para criar e cultivar um vínculo saudável com a cria, bem como ajudá-la com outros recursos a regular-se emocionalmente.
Hj (e já desde os 3 anos e meio) considero que a amamentação se tornou 100% leve pra mim. Paco visita o peito 1 vez por dia ou menos, no geral, mas sempre busca esse contato. Agora posso dizer que é só carinho, só chamego, só encontro, só felicidade, que a dor e o cansaço ficaram pra trás e que bom que não desisti nos momentos de desespero (porque eles existiram!), e apesar de todas as dificuldades chegamos até aqui bem juntinhos.