Amamentação e vínculo mãe-bebê: por onde começar?

Somos mamíferos! Esta é a primeira coisa a ser dita quando o assunto é amamentação. Precisamos partir dessa característica fundamental da nossa espécie pois os mamíferos, diferentemente dos répteis ou aves, têm condutas de apego para sobreviver, dentre as quais a amamentação, assim como o colo e outras formas de contato físico.

Apego é o nosso cordão umbilical psicológico, é a conexão emocional entre mãe e bebê que se traduz em condutas presentes nessa dupla nos primeiros meses e até mesmo anos de vida. Para o indivíduo humano, a segurança se transmite através da experiência sensorial, que tem seu começo no corpo da mãe. Nós nascemos preparados para continuar explorando no ambiente aéreo o corpo materno, nosso habitat natural durante a gestação intrauterina. Hoje em dia sabemos que existe uma etapa da gestação, a chamada extero-gestação, que completa o processo de maturação inicial desse indivíduo fora do útero, permitindo que ele lide com o ambiente externo, seus estímulos e desafios gradualmente. Por isso, a importância de mamar, ser acolhido no colo e ter contato físico em livre-demanda com seus cuidadores principais.

Existe um mecanismo biológico evolutivo magnífico no 1º. ano de vida através de neurônios-espelho que faz com quem o bebê olhe para o rosto da mãe apaixonadamente, reproduzindo as expressões faciais dela e de outros cuidadores. O bebê precisa sentir-se sentido, ver que seus cuidadores reagem ao seu olhar, mudam o tom de voz conforme ele se movimenta e se expressa… Esta é a comunicação diádica, que envolve construção de sintonia e é condição essencial para a formação de apego seguro.

Mas afinal o que é apego seguro?

Muito se fala atualmente sobre criação com apego e apego seguro. A teoria do apego foi desenvolvida por um psicólogo inglês chamado Jonh Bolwby, que se tornou um pesquisador de referência da Organização Mundial da Saúde em relação à saúde mental materno-infantil. Ele tem diversos livros sobre o assunto traduzidos para o português, um tanto técnicos. Um autor que seguiu seus estudos e aproximou-se mais do diálogo com os pais foi o pediatra espanhol Carlos Gonzales, também publicado aqui no Brasil.

A ideia principal da teoria do apego é a de que na medida em que tem suas necessidades físicas e emocionais cobertas, o bebê vai se sentindo o centro do universo da mãe, do pai, de seus cuidadores e nisso vão sendo plantadas as sementes da auto-estima do adulto que será mais tarde. Se existe apego seguro, a criança tem as melhores condições para crescer, explorar e ser autônoma. Se a mãe e o pai estão perto dele e são responsivos, o bebê têm oportunidades contínuas de desenvolver estratégias para atrair sua atenção e obter o que precisa. Aquele ping-pong do “sempre que eu faço isso”, “você responde aquilo” num ciclo que resgata a calma e o prazer nesse contato é o passo inicial da construção do apego por parte do bebê (relação ascendente) e do vínculo por parte da mãe (relação descendente), numa mútua regulação. Uma mãe emocional e fisicamente saudável se sentirá atraída por seu bebê, terá o desejo físico de cheirá-lo, abraçá-lo e olhá-lo detidamente. O bebê por sua vez responderá aninhando-se, balbuciando, sorrindo, chupando e agarrando-se à mãe. Nesse círculo de retroalimentação recíproca, ocorre essa espécie de dança entre mãe e bebê na qual se desenvolve o apego.

Existem alguns tipos de configurações do apego: apego seguro, apego inseguro, apego preocupado, apego evitativo e apego desorganizado.

A maioria dos pais não sabem muito sobre o desenvolvimento infantil, por diversos fatores. Disso decorre que os transtornos do apego se devem mais à ignorância do que ao abuso e que podemos melhorar essa questão com orientação e apoio às famílias puérperas. A respeito disso, alguns dados relevantes:

– 1 em cada 3 pessoas têm apego inseguro

– a tendência à reprodução dos próprios padrões de apego é de 75%

– estudos longitudinais revelam que os modelos de apego estabelecidos entre 12 e 24 meses de vida se encontram presentes aos 21 anos.

Num próximo post, abordarei os tipos de apego e suas principais características. Se ainda não está inscrito, assine a lista de e-mails aqui do blog para receber! 😉

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